Brasil avalia mudanças no protocolo de microcefalia


Maior estudo já realizado sobre o Zika aponta que sinais e sintomas de alterações neurológicas sejam incluídos como critérios para trigam de bebês, independente da presença de microcefalia
 
A microcefalia e o histórico de exantema durante a gestação são critérios insuficientes para identificar as consequências da infecção pelo vírus Zika em recém-nascidos. A constatação faz parte de um estudo encomendado pelo Ministério da Saúde, publicado, nesta quarta-feira (29), pela revista científica britânica, The Lancet. Os resultados do estudo sugerem que os sinais e sintomas de alterações neurológicas sejam incluídos como critérios para triagem dos bebês, independentemente da presença ou não de microcefalia.
 
O estudo foi feito em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a Sociedade Brasileira de Genética Médica, o Centro Latino Americano de Perinatologia da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS/OMS) e a Universidade de Harvard, dos Estados Unidos. Foram analisados 1.501 nascidos vivos, que já haviam sido investigados pelas secretarias estaduais e municipais de saúde, sendo este o maior estudo já feito sobre o tema no mundo. Antes, o maior estudo havia analisado 104 crianças.
 
A pesquisa mostra que, de cada cinco crianças com infecção congênita pelo vírus Zika  - confirmada ou provável - uma não apresentava microcefalia, indicando que 80% das crianças foram captadas por meio da investigação utilizando o critério de microcefalia e exantema. “Estamos adequando nossos protocolos a esses achados para ampliar as investigações e melhorar nosso sistema de vigilância. Neste momento, o Brasil e o mundo já acumularam mais conhecimentos sobre a doença e podemos, com esse aprendizado, aprimorar o monitoramento das consequências da infecção congênita pelo vírus Zika”, explicou o coordenador-geral de Vigilância e Resposta às Emergências em Saúde Pública, do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira.
 
No começo das investigações da epidemia, em novembro de 2015, o Ministério da Saúde adotou uma definição de caso mais sensível para identificar a microcefalia, tendo como critério 33 cm de perímetro cefálico para recém-nascidos de ambos os sexos. Essa definição foi, posteriormente, alterada para 32 cm. A adoção dessas definições mais sensíveis permitiu identificar que 20% das crianças com alguma condição de importância clínica não apresentavam microcefalia. Portanto, esse é um importante aspecto que está sendo considerado para ajustar o modelo de vigilância de Microcefalia para Alterações Congênitas.
“Utilizar esse ponto de corte mais sensível no começo das investigações nos permitiu identificar essas crianças que não tinham microcefalia, mas que possuíam outras alterações do sistema nervoso central, possivelmente relacionadas à infecção pelo vírus Zika”, reforçou.
 
O artigo foi elaborado com base em informações do Registro de Eventos em Saúde Pública (RESP) e Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) do Ministério da Saúde, com o apoio de todos os estados do país. Com base neste achado, o Ministério da Saúde já está estudando a adequação do atual Protocolo de Vigilância e Resposta à Ocorrência de Microcefalia e/ou Alterações do Sistema Nervoso Central. Vale ressaltar que a investigação de outras causas já é realizada pelo Ministério da Saúde em articulação com estados e municípios, por meio dos testes de audição e visão.
 
Como consequência direta destes recentes achados obtidos com o estudo sobre as causas do surto de microcefalia e outras malformações congênitas graves no Brasil  - em especial na região Nordeste - o Ministério da Saúde, por intermédio da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), mantém um grupo de especialistas que está aprofundando as investigações sobre as causas deste evento e possíveis fatores associados. Em breve, espera oferecer mais respostas à sociedade, aos gestores em saúde pública e à comunidade científica.
 
Por Amanda Mendes, da Agência Saúde
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  • 07 de julho de 2016

  • Agência Saúde

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